terça-feira, 3 de setembro de 2013

Crónica do 2.º dia do Caminho Português, São João da Madeira - São Pedro de Rates, 90 km

Sapateiro - São João da Madeira

Após o pequeno almoço no bar do quartel, começámos a pedalar pelo fresco da manhã, Eram 7:55, quando partimos e logo com uma subida de 3 km em direcção ao centro de São João da Madeira. 

Continuámos a subir até ao alto da Arrifana e estava feito o aquecimento para enfrentar a segunda maior jornada do Caminho.



Igreja Matriz da Arrifana


Curiosamente, Arrifana e Coimbra têm a particularidade de ter a mesma padroeira, Isabel de Portugal, a Rainha Santa. A Rainha Santa Isabel, que viveu grande em Coimbra grande parte da sua vida, foi muito devota a Santiago. Desde  Coimbra peregrinou  até Compostela por duas vezes, confirmadas. Havendo quem defenda que o teria feito, de forma anónima, por mais duas ocasiões.

Pouco depois da Arrifana, passava das 09:45, cruzámos-nos com mais um peregrino, contudo somente a partir do Porto e principalmente de São Pedro de Rates é que se tornou mais constante o encontro com os demais peregrinos.


Peregrino a Santiago
Na Malaposta o Caminho derivou para a antiga calçada romana, depois Estrada Real, prosseguindo pelo lugar de Souto Redondo até Lourosa.

Infelizmente esta via histórica não se encontra devidamente preservada, é deprimente o estado em que se encontra a calçada, envolta por vegetação selvagem e depósito de lixos indesejáveis.

Prosseguindo, em Grijó ladeámos o Mosteiro e um frondoso bosque de carvalhos cercado por extensos muros antigos, feitos de pedra.

A necessidade de reabastecimento obrigou a nova paragem num café à entrada da vila, onde também estava um casal de peregrinos com duas crianças de tenra idade, que transportavam em carrinhos de bebé.

Ficou com algum desgosto que não visitámos o Mosteiro de Grijó, ficando a referida visita agendada para outra ocasião.

Depois de Perosinho subimos a difícil calçada da Serra de Negrelos, contudo a passagem pelo bosque foi reconfortante, o fresco da vegetação transformava mais leve o pedalar, parecendo aumentar a sua cadência.

De Grijó a Gaia, pela Serra de Negrelos
A chegada a Vila Nova de Gaia não foi demorada, contudo o acelerar do ritmo necessitava de uma recompensa alimentar. Assim nada melhor que uma pequena sondagem para obter indicação de onde comer bem, pelo mais baixo preço.

O local escolhido foi o Piri-Piri, onde o cheirinho a frango assado dissipou qualquer dúvida quanto à ementa a escolher.

Na Ribeira, dando orientações a duas jovens alemãs
Após o repasto, seguimos para a zona ribeirinha de Gaia, para o indispensável café. Gaia superabundava de turistas nesta altura do ano.

Ao subir da Ribeira para a Sé do Porto, o encontro com duas peregrinas alemãs que se preparavam para iniciar o Caminho, de bicicleta, a partir do Porto propiciou alguns momentos de conversa. As jovens não dispunham de qualquer informação sobre albergues e lugares do Caminho, assim, oferecemos-lhes um guia, que por certo muita utilidade lhes daria, face à completa ausência de informação que dispunham, a não as setas amarelas do Caminho.

Subindo à Sé do Porto para a aposição dos carimbos nas credenciais, apenas no detivemos o tempo necessário para o efeito.

Porto- Vilarinho

Urgia sair do Porto, uma vez que ainda faltavam uns bons cinquenta quilómetros até São Pedro de Rates.
Ao passar na Maia o primeiro contratempo na bicicleta do Aguiar, com problema na pedaleira, o que originou um desvio na procura de alguém que lhe pudesse valer, o que veio a acontecer.
Numa primeira fase ainda o seguimos, mas de pouco adiantava e assim enveredámos novamente pelo Caminho.


A passar a Ponte dos Arcos, rio Ave
A partir de Vilarinho, a paisagem muda radicalmente, o Caminho começa a penetrar por campos agrícolas verdejantes, e à medida que se avança para Nordeste, os vinhedos marcam a tradicional paisagem minhota.

Ponte dos Arcos
Na passagem do Ave, a ponte dos Arcos, as sombras  espelhadas no rio, a velha azenha, enfim toda a zona envolvente, são motivos que apraz registar e lembrar. 

Finalmente, e após 90 km a pedalar e de frequentes paragens para a captação de imagens, eis-nos em São Pedro de Rates. No momento em que seguia com o Joaquim Tavares em direcção ao albergue, eis que apareceu o Aguiar, em velocidade apressada, com bicicleta reparada e pronto para novo empeno!!!

Igreja românica de São Pedro de Rates
O edifício do albergue de paredes antigas e austeras encontra-se bem cuidado e conservado, o pátio interior, bem ajardinado, é muito agradável e convida ao repouso. Nele se insere um telheiro aproveitado como espaço de exposições sobre o Caminho.

Depois de um duche bem merecido, rumei ao pequeno mini mercado próximo do albergue, onde, com apenas sete euros e alguns cêntimos, comprei os ingredientes para fazer o jantar. 

O menu foi esparguete com atum em tomate e cebola, acompanhado por sumo de cereais e para finalizar fruta da época. Para sobremesa bolo de frutos secos, oferta da Sandra, numa palavra, perfeito.

O jantar no albergue

Mas o pior ainda estava para acontecer. A segunda noite foi  nova tormenta, repetiu,-se, desta vez com colunas de som, o concerto musical do primeiro dia. A novidade foi a musica tradicional galaico-portuguesa, onde intrusas concertinas ronqueiras deliciaram os ouvidos do pobre Joaquim. Nem mesmo usando a habitual mascarilha do Zorro conseguiu vencer as gralhas nocturnas. 

A resignação foi total, tanto mais que o maestro do grupo, nessa noite, usou uma camisola de meia manga, com seta amarela.O espírito do Caminho intensificava-se, à medida que se avança no Caminho. São Pedro de Rates, para além do simbolismo histórico que representa, vive de forma entusiástica e hospitaleira a senda do Caminho.

É justo uma palavra de agradecimento para os hospitaleiros do albergue, gente boa, bastante simpáticos e prestáveis. É nobre a sua atenção para com os peregrinos.

No 2.º dia do Caminho, às 07:55 saímos de São João da Madeira e percorremos 90 km, chegando a São Pedro de Rates pelas 20:15.

Fotos da 2.ª Jornada


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