Caminho Francês

O meu Caminho, como começou...

Percorrer o Caminho Francês de Santiago era sonho antigo que ganhou forma definitiva por finais de Agosto de 2007, aquando duma visita a Santiago de Compostela.

O sentimento de felicidade  patente nos rostos dos peregrinos acabados de chegar à Praça do Obradoiro despertou a minha inquietação e, dentro de mim, o entusiasmo foi crescendo e ganhando forma. Acerquei-me de um ou outro peregrino mais efusivo  para lhes demonstrar a minha admiração e procurando que me contassem as experiências vividas.


A diversidade e colorido da Praça do Obradoiro, com o movimento de gente de todas as idades, peregrinos acabados de chegar a Santiado, a pé ou nas suas bicicletas, uns deitados nas lajes aquecidas pelo sol, outros simplesmente cirandando, mas todos com o rosto perfeitamente elucidativo de um óptimo estado de alma. Foi esta imagem que interiorizei e me impeliu a percorrer  o Caminho Francês de Santiago de bicicleta, a pé seria preciso multiplicar os dias por três. Assim dentro de um ano iria fazer o Caminho.

Embuido deste pensamento dirigi-me ao Centro de Informações a Peregrinos, onde acabava de chegar, fatigada, mas irradiando felicidade, uma peregrina castelhana, muito bem disposta, que se me dirigiu alegremente, exclamando: "Trinta e dos dias dias  à pié".

O que os meus olhos tinham acabado de presenciar, com o testemunho da chegada daquele grupo de peregrinos, precipitaram a decisão de não deixar para amanhã o que podes fazer hoje. Assim, numa impulsiva e repentina decisão antecipei a minha vontade, não iria conseguir estar um ano à espera para fazer o Caminho Francês de Santiago. O meu Caminho já tinha começado, ali, naquele instante, com a decisão de encetar os preparativos para o percorrer. 

Primeira acção, comprar o Guia do Peregrino. Precipitei-me de seguida para a  "Tienda do Peregrino", a fim de obter a credencial e informações adicionais. Antes de entrar conversei com uma jovem, de nacionalidade espanhola, que acabava de finalizar o seu Caminho. Disse-me que necessitou de dez dias para percorrer de bicicleta a distância entre Burgos e Santiago de Compostela, acrescentando não ter sentido grandes dificuldades. Já estava em busca de informação importante, tentava avaliar previamente as minhas possibilidades, embora me sentisse também capaz e com coragem para vencer as adversidades.

Obtida a credencial, quando me preparava para sair, tive ainda oportunidade de escutar um resumido relato de um jovem belga. Disse ele que tendo começado o seu Caminho a partir de Dax, em França, demorou catorze dias a percorrer a distância até Compostela, tendo rolado contudo por estradas em asfalto paralelas ao Caminho. Cá para mim não é bem o Caminho.

Sempre que escutava novo relato ou testemunho fervilhava cada vez mais, já só fazia conta ao número de dias de férias que tinha disponíveis até ao final do ano. Ainda não tinha plano, mas secretamente já sabia que iria levar a bicicleta até França, para experimentar a sensação de percorrer o Caminho. O meu estado era o de uma criança em vésperas de Natal, à espera de receber a prenda no sapatinho.

Assim que abandonei Santiago Compostela, já imaginava o percurso e imaginava as localidades por onde iria passar. A última vez que coloquei os pés em solo francês remonta ao ano de 1993. No meu imaginário também já tinham entrado os "croiassants" e o "café au lait". 

Preparação 

Decidido a fazer o Caminho, mal cheguei a Coimbra pensei no essencial para empreender a viagem. Primeiro haveria que saber da possibilidade de levar a bicicleta no comboio. Na CP informaram-me que teria de desmontar as duas rodas, para poder viajar com a bicicleta.  

Felizmente surgiu a possibilidade de aceitar a boleia até à cidade francesa de Bayonne, através de um amigo, no dia 10 de Setembro.
O primeiro e difícil problema  do transporte estava ultrapassado e garantido até Bayonne. Depois só teria que fazer os cerca de oitocentos quilómetros até Santiago, será que as minhas pernas iriam corresponder ao desafio? Era isso mesmo que me achava ansioso por saber, porque de Santiago a Coimbra alguma coisa se haveria de arranjar. 
Em seguida havia que equipar a bicicleta com alforges, suporte, afinações, espigão para o volante, selim, pneu e câmaras suplentes, roupa leve e adequada. Bem tudo junto toca de desembolsar perto de 200 euros.

Gare de Bayonne
Conseguida uma alteração nas férias, a partida ficou marcada para 10 de Setembro e a chegada prevista para 23 ou a 24 do mesmo mês. Acabei por não errar muito nas previsões. Assim, às 18:03 horas de 10 de Setembro arranquei de bicicleta das Torres do Mondego, andei os primeiros 9 Km até Coimbra, onde o amigo Guedes lá me aguardava na Casa do Sal, e a quem agradeço reconhecidamente a boleia.








 A Viagem


A viagem até França correu com grande expectativa e algum nervosismo à mistura, mesmo assim ainda consegui dormir algumas horas, o suficiente para estar bem no dia seguinte. 

Apenas parámos em Vilar Formoso para jantar e um pouco antes de San Sebastian, e por fim perto das , 04:30 em Portugal,  05:30  hora francesa, cheguei a Bayonne. Entregue finalmente à minha sorte, na periferia da cidade, sem que se vislumbrasse ainda qualquer sinal da luz do dia, coloquei os pequenos farolins auxiliares na bicicleta e pedalei até ao centro da cidade, logrando apanhar apenas a primeira ciclovia próximo do interior.

Para quem visite o Sudoeste de França, aconselho vivamente uma visita à a Bayonne, umas das cidades do País Basco Francês, particularmente em Agosto, por altura da realização das "Férias"  festas que engalanam a cidade e emprestam um magnífico colorido vermelho e branco.
Durante as mesmas, todos residentes e turistas são convidados a participar, trajando  a rigor, de calças e blusas ou camisa brancas, complementados por lenços, boinas e as cintas vermelhas, que sobressaem no branco, espalhando na noite um colorido encantador. E, o bom vinho da região, faz o resto, saciando as gargantas mais secas e ajudando a emprestar, ainda mais alegria, a uma festa cheia de calor, animada pelas múltiplas bandas musicais espalhadas pela cidade.

Não resisto à tentação de assinalar que em Bayonne, entre 2 e 16 de Abril de 1808, se inscreveu uma página um pouco controversa na historiografia portuguesa, a Deputação a Baiona. Assim, por ocasião das Invasões Francesas, um grupo de pessoas da elite aristocrática portuguesa prestou vassalagem a Napoleão Bonaparte, com o objectivo, entre outros, de pedir a diminuição da contribuição de guerra, a manutenção da Casa de Bragança no trono de Portugal, destituída pelo governo francês de Junot em Janeiro de 1808 e a unidade do país. Esta carta foi muito divulgada pela historiografia portuguesa de feição liberal e republicana, para demonstrar a colaboração e a traição da aristocracia portuguesa em face da ocupação francesa.


No interior do pequeno comboio, até St-Jean-Pied-de-Port
Depois de pedalar uns seis quilómetros pelas ruas desertas, cheguei finalmente à gare da SNCF, onde esperei ansiosamente que chegassem as 6:00H, para comprar o bilhete que me permitisse viajar de comboio até St-Jean-Pied-de-Port, ponto de partida do meu Caminho até Santiago.

Foi no café da Gare de Bayonne que me deliciei com um maravilhoso croissant e um café au lait. aproveitando para praticar o meu enferrujado francês com dois casais parisienses, com idades compreendidas entre os cinquenta e nove e setenta anos, também eles Peregrinos a Santiago, mas com bicicleta, de estrada. 
Estava a experimentar sensações únicas e desconhecidas, a experiência, até agora, estava a decorrer muito de forma muito interessante, quiçá com alguma ansiedade e deslumbramento à mistura,


O primeiro dia, Terça-Feira, 11 de Setembro  de 2007. Saint Jean Pied-de-Port - Roncesvalles, 26 Kms.

Deixada para trás  a Ville de Bayonne, a viagem no pequeno comboio vermelho foi agradável, serpenteando o rio  Nive ladeado por frondoso arvoredo, até St-Jean-Pied-de-Port. Aqui chegado, dirigi-me à velha cidadela fortificada, e, algo receoso de perder tempo, poucos momentos dediquei ao conhecimento da harmoniosa e bonita cidade.
Mas ainda não sabia bem o que me estava reservado, para os 840 kms até Santiago, em bicicleta, e, mais 300 até Coimbra.

Uma paragem na oficina do peregrino, a fim de recolher informações, carimbar o certificado, e a recolher a vieira,  que nos era oferecida. Na conversa com um dos simpáticos voluntários,  que se encontravam a prestar apoio aos peregrinos, fui aconselhado a seguir pela rota mais dura, mas também a mais bonita, a de Cisse.

Mais uma pequena volta pela cidade, culminando com a compra de alguns mantimentos. Finalmente "allez, au chemin de St. Jacques de Compostelle". 


O Caminho por Valcarlos

A minha intenção de enveredar pela Rota de Cisse, conforme conselho dos hospitaleiros da Oficina do Peregrino, esbarrou na dificuldade dos primeiros metros, embora me tivessem dito que o Caminho suavizava após os dois primeiros quilómetros. O desconhecimento, a falta de experiência e algum receio, levaram-me a seguir por Valcarlos, rota igualmente difícil, mas sem dúvida mais amigável de fazer.

Segundo alguns relatos que escutei, os primeiros 8 Kms da rota de Cisse são realmente diabólicos, tal a sua inclinação, Valcarlos, onde estacionaram as tropas de Carlos Magno, em campanha bélica pela Península Ibéricaa é um vale dotado, igualmente, de magnífica paisagem, com frondosos bosques de carvalhos, castanheiros e outras árvores que os meus parcos conhecimentos de botânica não deixaram identificar.

Em Valcarlos fiz uma pausa, aproveitando a mesma para a compra de uns  pedaços de "jambon cocido" e pão,  prosseguindo novamente na longa subida montanha acima. Aproveitando um local sublime que convidava a piquenique, parei novamente, desta vez para fazer uma refeição ligeira. Para além do pão e fiambre, fruta, sumo e uma pequena fatia de bolo. Entretanto, por certo aproveitando também a beleza do local, um sujeito escocês fez-me companhia. Fazia a travessia dos Pirinéus em bicicleta.

A etapa foi efectivamente muito dura, exigindo muito das pernas, logo para o primeiro dia, cerca de 24 quilómetros. Recompensador, é sempre a chegada ao alto da montanha, pelo menos para recarregar as baterias da moral.
sempre a subir, com um susto pelo meio. Um carneiro, não sei se selvagem, pastava mesmo junto à beirinha da estrada, olhou-me por baixo, fiquei todo arrepiado, mas o animal estava mais interessado na comida, felizmente para mim.

Quando a subida parece não acabar, desanimar é fatal, é preciso cerrar os dentes, procurar ser mais forte. Mas, quando finalmente se alcança o prémio da montanha, até parece que as pernas ganham outra vida.  No Alto de Ibaneta, foi um pouco assim que aconteceu, e, a paragem foi merecida.
A paisagem, a capela e o cruzeiro foram objecto de algumas fotos. Na descida para Roncesvalles, atingi a velocidade máxima de 54,82Km H. Percorri durante o dia cerca de 26 Kms, 29 incluindo a passeata madrugadora de Bayonne.
Andei a uma velocidade média de 11,32 Kms Hora, pedalei 04:09:14 H, para quem não dormiu toda a noite, e, a cama foi um banco de autocarro, nada mal.
Em Roncesvalles, o proprietário do café do Peregrino, aconselhou-me a pernoitar nesta localidade, tendo em conta que as horas e embora fossem ainda 15 H. 30 m, não sendo tarde, também já não seria muito cedo para arranjar dormida. Como estava ainda 

Roncesvalles

"O golpe de Rolando"
“…ao lado desta montanha (Port de Cize), em direção ao norte está o chamado vale de Valcarlos, onde o próprio Carlos Magno acampou com seu exército, quando os seus soldados morreram em Roncesvalles. Por ele, também passam muitos peregrinos a caminho de Santiago, quando não querem escalar o monte. Em continuação, na descida estão o hospital e a igreja, é lá que se encontra o penhasco que o poderosíssimo herói Roland, partiu ao meio com sua espada, de cima a baixo, em três golpes. Em seguida, vem Roncesvalles,  onde teve lugar a grande batalha em que pereceram o rei Marsilio, Roldan e Oliveros, com outros 40.000 combatente, cristãos e sarracenos.”
Nas montanhas, antes de Roncesvalles

Após este pequeno excerto que extraí da tradução para castelhano do “Guia do Peregrino Medieval” de Aymeric Picaud, clérigo francês de Poitou, que no  séc XII escreveu o primeiro guia dos peregrinos a Santiago, é tempo de voltar ao relato desta minha viagem.

ApóEms 




Em Roncesvalles, tratei de aconchegar o estômago com um lanchito, por mero acaso na companhia do escocês, com quem, há algumas horas atrás tinha estado à conversa, na subida para Ibaneta.

Dirigi-me depois ao albergue para arranjar cama e carimbar a credencial. Foi aqui que um italiano, Fulvio Lamperti, na casa dos cinquenta e…, também a fazer o caminho só, com a sua bicicleta, me disse que já não encontraríamos vaga no albergue, gratuito, para os peregrinos. Tinham-lhe sugerido a Pousada de Juventude, e, foi para aí que nos dirigimos. Até acabámos por ficar mais bem instalados, a única desvantagem era ter de pagar 6€ para dormir! 
Fulvio,  antes da partida para o segundo dia de caminho
Entretanto juntou-se-nos também o Marco, um simpático e conversador ítalo-suiço de Lugano, que fazia o seu caminho, a pé, na busca de se encontrar consigo mesmo. A sua ideia era encontrar algum conforto espiritual, e, assim tentar resolver alguns problemas da sua vida sentimental. Os três, fomos jantar o menu do peregrino ao restaurante recomendado na oficina do peregrino tinha lanchado), pagámos 8 euros pelo menu completo, boa comida, até ousei provar um pouco de vinho, sem sair das marcas. Para a nossa mesa saltou também um simpático peregrino francês, septuagenário, mas com a força de um jovem. 
Com o decorrer da conversa, fiquei a saber, que este bom amigo de Savoie, tinha sido operado a um tumor. Há três semanas tinha feito as últimas sessões de quimioterapia, e estava ali para fazer o caminho a pé. Quase me recusava a acreditar, sem dúvida, é indispensável muita coragem, determinação e fé.

O Marco sugeriu que fossemos à celebração religiosa que se iria realizar às 20.00 horas, afirmou que não era religioso mas gostava de ir. Os quatro acabámos por entrar na igreja, e tenho que referir, em boa hora, passei a celebração quase sempre arrepiado, experimentem, verão que não estou a mentir, ou a fazer género.
As motivações para fazer o caminho assentaram numa diversificada série de razões, históricas, culturais, místicas, e, a principal, julgo que nunca a conseguirei explanar convenientemente, mas está cá dentro, não a consigo extrair, mas é, seguramente, muito boa.

Roncesvalles, marca o início do caminho em Espanha 
O desafio que o mesmo constitui foi, igualmente, um dos motores que me impeliu a fazê-lo. Experimentei, dentro daquela igreja algo de espiritual ou místico, que funcionou seguramente como um bálsamo para aquele final de dia, e, para os subsequentes. A atmosfera vivida naquela celebração, onde estavam presentes pessoas de todos os cantos do mundo. Foram mencionadas, pelo celebrante, as nacionalidades de todos os peregrinos presentes, com o nome de Portugal também a ser citado, provavelmente tendo-me a mim como o seu único representante. Senti um arrepio ainda mais forte, ao ouvir, num contexto especial, pronunciar o nome do meu país. 

Foi, sem dúvida, algo que nunca mais esquecerei. Assim, depois de ter alimentado bem o corpo e o espírito, gozar o merecido o descanso. A jornada seguinte adivinhava-se igualmente dura.

Contudo, ainda houve tempo para conversar, com duas jovens peregrinas conhecidas de Marco, uma americana e outra italiana.

Sem dúvida, o ambiente vivido no primeiro dia, superou inteiramente as melhores expectativas iniciais.
Finalmente, neste primeiro dia, adormeci no meio de uma incrível sinfonia de roncos onde, o meu mais recente amigo italiano ocupava, quase por inteiro, lugar de destaque. Quanto a mim, bem outros que relatem o meu protagonismo na referida orquestra.

Roncesvalles - Puente La Reina, 82,04 km - 2.º dia, Quarta-Feira, 12 de Setembro  de 2007. 

Depois de uma noite relativamente bem dormida, na verdade ainda foram alguns instantes a habituar-me à orquestra ronqueira, os peregrinos a pé foram os primeiros a levantar-se, ocasião para nos despedirmos de Marco.
A manhã estava fresca, depois de preparadas as bicicletas, partimos, parando na localidade Burguete para o pequeno almoço. Aqui encontrei o nosso amigo francês a quem fiz referência no relato antecedente.


Fulvio Lamperti
O pequeno almoço foi bem reforçado, embora o dia estivesse fresco a etapa previa-se ser dura. Fulvio perguntou se não me importaria que fossemos fazendo o caminho juntos, facto que não me perturbou muito, o italiano parecia ser boa companhia, e, nestas coisas, a entreajuda nunca é de desprezar.
Começámos por seguir as estradas paralelas ao caminho, onde se rolava melhor. Contudo, tem sempre a desvantagem de não ser tão místico, de enquadramento paisagístico inferior, e, por vezes, as distâncias até são maiores. Foi o caso da subida até ao Alto do Erro, cerca de 800 m de altitude.


Vítor Pina
Aqui chegados, influenciei Fulvio a enveredarmos pelo caminho. E, em boa hora, este troço era de uma beleza fantástica, um caminho estreito e rápido por entre vegetação, levou-nos a velocidades impensáveis, com algumas paragens obrigatórias para não atropelar os restantes peregrinos, a quem previamente avisávamos com caminhantes.

As palavras da ordem quando passávamos,eram sempre as mesmas buenos dias e buen camino.

A beleza deste trajecto é extraordinária, dava regalo rolar assim. A satisfação interior é incrível, lembro-me de, só em criança sentir tamanho entusiasmo, aquando da ida em excursões de catequese.



A arquitectura harmoniosa dos povoados por onde passávamos, era á digna de ser assinalada, inúmeros monumentos com interesse histórico, sobretudo igrejas e mosteiros, marcam diferentes períodos da história, do românico ao barroco, passando pelo gótico e pelo renascimento, mas, sobretudo, devo destacar as edificações românicas.

Finalmente, próximo de Pamplona, retomámos a estrada que coincidia com o troço do caminho.Em Pamplona, quando procurávamos visitar a cidade, Fulvio arranjou forma de se colar a dois espanhóis com quem já nos tínhamos cruzados anteriormente. Feitas agora as apresentações, fiquei a saber os seus nomes: Camilo e Vítor, também tinham viajado no mesmo comboio até St-Jean. Saímos os quatro de Pamplona decidindo ir almoçar a Cizur Menor. Parámos num restaurante à saída desta vila. Aparrilhada de peixe estava óptima. Coincidência, estavam também a almoçar quatro portugueses, do Norte, que ali trabalhavam na construção civil.

A harmonia arquitectónica dos povoados espanhóis é de realçar, quase todos os pequenos povoados têm uma ou duas igrejas com interesse histórico.

Pamplona
Perto de Pamplona retomámos novamente a estrada. Quando passeávamos pela cidade,  encontrámos os espanhóis Camilo e Vítor, tinham também viajado no mesmo comboio para St. Jean-Pied-de-Port, pelo que já os conhecíamos de vista.

Saimos os quatro de Pamplona decidindo ir almoçar a Cizur Menor, a parrilhada de peixe estava óptima. Igualmente a almoçar estavam quatro portugueses do Norte, que ali trabalhavam na construção civil.

Após o almoço, em Cizur Menor
Depois da boa almoçarada seguimos todos juntos, tínhamos pela frente o Alto del Perdón, na subida disse a Vítor e Camilo que podiam ir andando, dado os nossos ritmos de andamento serem, mas na verdade acabaram levar pouca vantagem até Puente-La-Reina.


A subida para o Alto del Pérdon
O trilho estava pejado de pedras, foi um verdadeiro tormento. Cheguei a vir atrás, duas a três vezes, ajudar o italiano a empurrar a bicicleta, dadas as dificuldades do percurso.


A meio da subida encontrámos uma jovem checa de seu nome Gabriela. Aproveitámos para estar um pouco à conversa, enquanto descansávamos. Fulvio falava-lhe no seu filho que vivia em Praga, com uma compatriota da referida moça, eu, estava mais interessado em observá-la, tinha realmente uma figura deslumbrante.


Ao fundo, esculturas em ferro, simbolizando peregrinos
Foi uma vitória a chegada ao Alto del Pérdon, o caminho, tão duro para ciclistas como para os peregrinos a pé, revelou-se uma verdadeira tortura.

Finalmente no alto,o regozijo pelo feito alcançado, com as fotografias da praxe, junto das esculturas de ferro, ali colocadas em homenagem aos peregrinos.

Seguiu-se a observação da paisagem, com a longa e difícil subida, finalmente deixada para trás, antecedendo uma tresloucada descida até Puente la Reina, tal era a percentagem da sua inclinação, que nos atirou para velocidades incríveis.

Ter enveredado de bicicleta pelo troço do caminho, teria sido muito arriscado. O pouco que faltava até Puente la Reina, na estrada paralela aquele, descida do Perdón, foi efectuado a uma velocidade que chegou mesmo a atingir o máximo de 65,82 Kms Hora.


Igreja românica
Neste segundo dia percorremos 82,04 Kms, chegando a Puentela Reina às 16:30 horas, a uma velocidade média de 14,87 Kms Hora. Tempo de pedal, 05:30:53.


Preferimos ficar num albergue que já ficava fora da pequena cidade, era moderno e amplo, com excelentes condições. Tinha piscina e um bom jardim, acabei por gastar só 17€ na dormida e jantar.

Por medo de contrair alguma lesão, estupidamente não experimentei a piscina, a temperatura da água estava um pouco fria, antagonizando com a excelente tarde de sol. Pensei que talvez não fosse aconselhável, com o receio de contrair alguma contractura muscular.

O local onde se situava o albergue é óptimo, aproveitei para lavar a roupinha, ou não fosse eu da terra das lavadeiras, as Torres Mondego.

Antes do jantar ainda fui até Puentela Reina para tirar umas fotos, encontrei os espanhóis Vítor e Camilo, que se tinham deixado ficar no primeiro albergue.

Procurei ser dos primeiros a deitar-me, porque adormecendo primeiro, não ouviria o habitual concerto de ronqueira, mas não escapei, alguém já tinha os seus motores diesel a trabalhar a alta velocidade.

Pela madrugada é que a festa foi rija. Alguém se lembrou de começar por dar um espectáculo "d'harpa e dança". Consegui descortinar que o italiano tinha sido o primeiro, de forma tímida, seguiu-se-lhe um francês um pouco mais ousado, e, a seguir, um português bem mais descarado. Enfim, são coisas do caminho.

Puente la Reina-Logroño, 74,32 Km  - 3.º dia, Quinta-Feira, 13 de Setembro.



Estella,  vinho ou água, sem pagar.
Quem diria que esta etapa foi sentida de forma bem mais penosa que a do dia anterior! Percorremos 74,32 Kms, o tempo no pedal foi 05:47:47, a uma velocidade média de 12,81 Kms H., a máxima atingida foi de 52,72 Kms H. Saímos de Puente la Reina pelas 08h30m., o nosso percurso foi quase sempre pelo caminho, com muitas paragens, tal a beleza do mesmo. Espanhóis, brasileiros, colombianos, franceses, neo-zelandeses, coreanos, suiços, alemães, portugueses (eu também conto), em cada ponto do caminho se encontram peregrinos de diferentes nacionalidades. Quando ainda tinhamos poucos kms percorridos, encontrámos a simpática rapariga checa (Gabriela), com quem tinhamos falado antes de atingir o Alto del Perdón.
Ao chegár a Estella, agora já em companhia de Vítor e Camilo, dois espanhóis de perto de Algeciras que começamos por encontrar em Pamplona e que connosco fizeram parte da etapa anterior, aconteceu-me uma primeira contrariedade, um furo, felizmente estes amigos deram uma ajuda tão preciosa que praticamente nada tive que fazer. Camilo então, tratou praticamente de tudo, embora secundado pelos outros companheiros. No meio do azar a veio a sorte, possivelmente ainda agora lá estaria a mudar a roda!
O percurso deste dia foi feito quase exclusivamente pelo Caminho, excepção feita a um troço de cerca de 20 Kms, antes de chegar a Logroño, o que aconteceu por volta das 17.30 H., nesta cidade, depois de encontrarmos o primeiro albergue lotado, rapidamente nos acercámos do albergue paroquial aqui um senhor simpático, alto e bonacheiro, com ar de espanhol meio pinguço, mostrou-nos o local onde guardar as bicicletas, neste albergue não cobravam nada pela dormida, apenas pediam algum voluntariado e em troca também ofereceram jantar e pequeno almoço.
A atmosfera reinante era propícia a gerar bom estado de alma, importante como bálsamo para o cansaço que se começava a acumular. A profusão de gente oriunda dos quatro cantos do mundo, que fazem o caminho por razões várias, gera um clima que propicia os contactos transnacionais entre peregrinos de várias idades, credos e profissões. As relações entre peregrinos são fáceis e acontecem frequentemente de forma amiga, é claro que se torna sempre mais fácil relacionamentos estabelecidos entre portugueses, espanhóis, italianos e franceses, naturalmente um pouco pela aproximação linguística (todas derivam do latim).
Depois de uma pequena oração de graças pelo jantar (afinal o espanhol bonacheirão era o pároco), fomos convidados a no final da mesma nos deslocarmos à Igreja, a fim de efectuarmos uma oração já mais solene. Quando entrávamos Vítor comentava comigo que se tratava de uma igraja muito bonita, ao que respondi: "si, és mui bonita". Ouvi de imediato o agradecimento de uma jovem italiana (Isabela) que pensava estar eu a elogiá-la. Esclareci e disse que era a igreja.
Foi realmente um momento engraçado e que pôs em evidência a minha falta de jeito, e embora tivesse dito que efectivamente ela também o era, este facto não impedía a minha falta de sensibilidade.
Aquele momento de oração foi vivido de forma tranquila e mesmo para os menos crentes, o mesmo foi assumido e encarado com interesse.
Ainda faltava massajar as pernas para procurar ter uma noite bem passada, no meio de um verdadeiro estúdio em que os roncadores afinavam o seu canto fazendo questão de rivalizar uns com os outros, para desespero de quem tem o sono mais leve.

Logrõno - Santo Domingo de la Calzada - Belorado, 73,39 Km - 4.º dia, Sexta Feira, 14 de Setembro. 

Aqui posso dizer que começou o início de uma amizade latina, onde espanhóis, portugueses e italianos, demonstraram espírito de entre ajuda, companheirismo e sobretudo foram amigos.
Sem nos conhecermos, mas todos com o mesmo objectivo, fazer o Caminho de Santiago, independentemente das diversas motivações de cada um.
Vinhas em "La Rioja"
Partindo sós de Saint-Jean de Pied-de-Port, eu (António), Fulvio, mais tarde rebatizado para Va(lentino), e Sérgio. Somente Vítor e Camilo partiram juntos, criámos uma equipa unida e ao mesmo tempo diversa.
O espírito criado foi verdadeiramente fantástico, o factor idade praticamente não existia, embora seja de assinalar a amplitude que partia de Vítor, com os seus vinte anos passando pelos vinte e tal de Sérgio e Camilo, com um vazio nos trinta e depois os 45 de António e finalmente os 55 de Valentino.
Este dia foi rico em convivência, muita animação durante a etapa, que foi dura embora só tivessemos percorrido 73, 39 Km, a uma velocidade média de 13,77 Km/h. A pedalar foram 5:19:41, não contando os tempos de paragens, sendo que a velocidade máxima conseguida foi de 47,12 Km/h.


Em Santo Domingo de la Calzada parámos um pouco para visitar a zona histórica de uma cidade muito ligada às peregrinações a Santiago. A sua catedral románica-gótica, muito bonita, com uma riqueza incrível, encerra uma curiosidade que me atrevo a relatar.
Assim, quando entramos na catedral, do lado esquerdo, devidamente expostos dentro de uma enorme "gaiola", encontram-se um galo e uma galinha brancos (vivos). Parece incrível, mas não pensem que se trata de uma capoeira dentro da igreja. O galo e a galinha brancos são substituídos após vinte e um dias, segundo a tradição. Eles evocam o milagre de Santo Domingo : No século XVI, um rapaz alemão viajava para Santiago com seus pais, quando ao pernoitar em Santo Domingo a moça filha do estalajadeiro, enamorou-se dele, contudo o rapaz não correspondeu e a moça perante a recusa decidiu vingar-se e acusou-o de roubo. No regresso de Santiago os seus pais encontraram-no pendurado na corda mas ainda vivo, sobre os ombros de Santo Domingo. Comunicaram o facto ao juiz que se encontrava a comer e disse que o jovem estava tão morto como os galos que tinha no prato. De imediato os mesmos saltaram e começaram a cacarejar. Em jeito de castigo os juizes passaram a usar uma corda ao pescoço, posteriormente substituída por uma cinta.
Voltando às peripécias do caminho, devo referir que os 20 Kms. até atingir Santo Domingo foram os mais desagradáveis. Isto porque eu e Fulvio decidimos ir pela estrada. Foi a pior decisão. Uma verdadeira tortura, embora tivessemos a companhia de outros ciclistas. Várias vezes passamos e fomos ultrapassados por dois alemães que depressa se tornaram familiares.
Igualmente também foi familiar a presença de 3 italianos, um senhor na casa dos sessenta e dois rapazes bem mais jovens, na casa dos vinte/trinta, que mais para a frente encontrámos e com quem conversámos algumas vezes.
Após o abastecimento de combustível em Santo Domingo, foi o caminho até Belorado, onde chegámos pelas 16.30 horas.
A moça do albergue foi muito simpática e prestável, o alojamento tinha óptimas condições, lavámos e secámos as roupas, relaxámos e conversámos muito. Aqui chegaram pouco depois de nós os italianos e os alemães que atrás mencionei.
Ainda travei conhecimento com um casal francês que chegou pouco depois, conversámos muito, foram momentos de convívio agradável.
O jantar foi económico e bem servido, antes da carne de vaca estufada foi servida "paella" que o Fulvio ansiava per manjare. Melhor que a comida só o vinho, não é Valentino, tu e Camilo pareciam duas esponjas. E se Vítor "manjava como una fonha" então Fulvio e Camilo... como beberam!
Finalmente a dormida, com Valentino e mais um ou dois peregrinos a roncar, a malta começou por rir perante a música reinante, tendo sido um verdadeiro tormento conseguir parar. Contudo havia que respeitar os outros peregrinos, por isso até me mordi, a fim de conter o riso, no entanto logo Sérgio começava, era quase impossível parar, até porque,tratando-se de uma paródia, dificilmente consigo resistir. Indiferente a isto tudo estava naturalmente Fulvio, à noite "roncava como um camião TIR" e pela manhã alinhava sempre no "passeio de motoreta".
Foi um dia divertido, sem dúvida, com muita alegria, e uma vontade grande de aproveitar tudo o que o Caminho pode proporcionar: alegria, sã convivência, descoberta, descontração, liberdade, mas sublinho a amizade e o prazer puro e simples de fazer o caminho.

Belorado - Burgos - Hontanas - 88,84 Km - 5.º dia, Sábado, 15 de Setembro.

Saímos de Belorado, já tarde, cerca de 09:00 horas da manhã. Percorremos 88,84 Km. a velocidade média da etapa foi de 14, 64 Km/h. A rodar, o tempo cifrou-se em 06:04:06. A velocidade máxima atingida foi 45,64 Km/h.

Um dia duro e difícil, mas saímos recompensados pela beleza do trajecto e pelos bons momentos passados.


Uma paragem mais longa em Burgos, onde almoçámos e apreciámos a admirável catedral, considerada Património da Humanidade pela UNESCO.

Burgos está histórico intimamente ligada à história das peregrinações a Compostela, que seguramente lhe deram uma dimensão  enorme e a importância, que hoje assume.

Foi com alguma relutância que partimos, contudo os dias que dispúnhamos para fazer o caminho não convidavam a grandes paragens. É interessante referir os muitos peregrinos, de todo o mundo, que aqui encontrámos, misturando-se com os habitantes locais que calcorreavam as ruas bebendo umas cervejas e comendo uns tapas.
Deslumbrante paisagem do Caminho


 Os almoços foram sempre momentos de confraternização e de convívio, espaço para troca de ideias e contribuiram seguramente para um melhor conhecimento mútuo.

Não recomecei muito bem, porque furei, mal saímos de Burgos, um furo tem sempre um efeito psicológico negativos, mas neste caso, com a ajuda dos meus amigos recentes, os efeitos negativos foram minurados.

Catedral de Burgos
Depois de algum momentos bem passados em Burgos, novamente no pedal até Hontanas. Esta segunda parte da etapa foi mais penosa, eu e Fulvio ficámos para trás, acabei por ficar sem água um pouco antes de Hontanas, e se o calor apertava! Vítor, Sérgio e Camilo tinham andamento mais forte, por isso descolaram um pouco. Contudo, também chegámos ao destino, embora 15 minutos mais tarde. Tratou-se, como disse de um percurso difícil mas belo.

De todos, acabei por ser o mais penalizado, tive o azar  de não ter sobrado água quente para mim. Acabei por ir jantar mesmo sem ter tomado duche, tomar banho de água fria era muito contraproducente.

Hontanas trata-se de um povoado antigo e isolado, contudo este isolamento é quebrado um pouco pelo movimento dos peregrinos. O seu casario de pedra, confere-lhe um estilo sóbrio mas harmonioso.

Jantámos no restaurante que praticamente vive dos peregrinos e pouco mais, sendo aliás muito bem servidos. 

O jantar decorreu com alegria, comentámos as peripécias do dia. Às duas da manhã acordei para tomar banho, finalmente água quente! Apesar dos habituais roncos, não foi difícil adormecer novamente.

Na manhã seguinte, tomámos o pequeno almoço no albergue de Hontanas e iniciámos nova etapa.


Hontanas - Sahagún, 98,88 Km - 6.º dia, Domingo, 16 de Setembro. 

Uma das jornadas mais longas (98,88 Kms, a uma velocidade média de 16,71 Kms Hora, a máxima de 37,28 Kms, e 5:54:53 horas na bicicleta). Tomámos o pequeno almoço em Hontanas e fizemo-nos à estrada.
Albergue em Hontanas
Após termos percorrido toda a provincia de Palência e termos entrado em Castela-Leão, ficámos alojados no albergue municipal de Sahagún.
Aproveitámos este dia para lavar as bicicletas, logo após a chegada a Sahagún, foi difícil encontrar um local para o efeito, mas lá chegámos por indicação de um voluntarioso rapaz, o qual foi difícil de entender, porque para além de falar espanhol, patinava tanto que obrigou que eu e Vítor sprintássemos para sair do local, para não mostrar a nossa má educação, em virtude de não termos conseguido suster umas infelizes risadas. Depois foi a corrida para o duche. O jantar, momento mais aguardado do dia, foi animadíssimo, dois andaluzos, um catalão, um milanês e um conimbricense deram azo à sua alegria, à volta da mesa, comemos bem e brindou-se por mais que uma vez ao "camino" e atudo o que gira à sua volta.
Esta noite no albergue foi particularmente divertida, depois de escrever umas linhas que procurei relatassem o dia reperante o já habitual concerto ronqueiro, eu e uns espanhóis de Madrid, meus vizinhos de beliche, não sossegámos e passámos um bom bocado na galhofa, antes de adormecer.

Jantar em Sahagún
As camas espalhavam-se num espaço amplo, um sobrado incorporado num edifício antigo, restaurado e que albergava também a "oficina de turismo". Depois de ter escrito umas linhas (poucas) o sono foi mais forte, contudo antes de adormecer ainda houve lugar a umas gargalhadas, em virtude da orquestra ronqueira que se fazia ouvir.
A etapa foi cansativa, mas a força de vontade venceu algo mais adverso que por vezes aparece, como por exemplo um furo.
Impõe-se uma referência aos muitos povoados por onde passámos, com os monumentos quase sempre bem preservados, bastantes flores a deixarem um colorido agradável.

Há medida que os dias iam passando as dificuldades aumentavam, os joelhos e as costas cada vez reivindicam mais protagonismo. Mas cada dia que se inicia nova etapa, é sempre aquela excitação, faz-nos parecer crianças.

Sahagún - Léon, 52,27 Km - 7.º Dia, Segunda-Feira, 17 de Setembro. 

Depois de algumas ameaças, a chuva surgiu pela manhã, em Sahagún. Tivemos que acondicionar bem os alforges porque o dia prometia ser difícil com muito frio e chuva. Era nossa intenção rolar perto de 100 Kms, contudo as expectativas foram frustradas, alguns problemas mecânicos na bicicleta de Vítor e a minha também a precisar de substituir travões, fizeram que à chegada a Léon procurassemos uma "tienda".

Como só davam as bicicletas prontas para depois de almoço e a chegada a León foi molhada, decidimos que a etapa deste dia tinha terminado. Haveria lugar para passear e cuidar do físico.

E de facto não nos arrependemos, Léon é uma cidade bonita, realço a Catedral e a Basílica de Stº Isidoro.

Almoçamos muito bem, à sobremesa comi uma deliciosa tarte, acompanhada de um café com leite que me deixou com uma barriga de abade.
Catedral de Léon
Depois de termos ido buscar as bicicletas à oficina, eu e Fulvio passeámos pela cidade, enquanto a restante malta se deixou ficar pelo albergue.

Foi uma altura de descompressão, dedicámos o dia ao passeio e à conversa.
No albergue reencontámos um grupo de tês italianos, com quem nos fomos cruzando no caminho, malta simpática, assim como uns alemães que já começavam a ser velhos conhecidos.

Como ainda tinha parte do almoço no estômago, apenas comi um pequeno lanche, de seguida foi altura de recolher, tratar de descansar bem, a fim de enfrentar a etapa seguinte, hoje apenas fizemos 52,27 Kms, a velocidade média subiu para 19,41 Kms, rolámos em cima da bicicleta 2:56:58 h., atingi uma velocidade máxima de 40,03 Kms por hora., foi talvez o troço menos agradável, rolámos quase sempre junto à estrada.

Léon - Astorga - Cruz de Ferro - Molinaseca  - 108,25 Km, 8.º dia, Terça-Feira,18 de Setembro de 2007. 

Astorga
Finalmente uma etapa em grande, muito dura mas também muito bonita. Saímos de Léon e o dia estava óptimo, sem a chuva que nos fustigou na etapa anterior. A passagem por Astorga foi marcada pelo meu terceiro furo.

Não fosse Camilo, Fulvio e Vítor e o meu "camino" seria bem mais penoso. Astorga é uma cidade pequena mas interessante do ponto de vista histórico e cultual, para além das Ruinas Romanas, a Catedral e o Palácio Episcopal, este da autoria de Gaudi, são pontos a destacar. Quando chegámos decorria na praça principal uma feira ambulante, típica e muito concorrida, a conferir uma animação interessante à cidade. Estávamos nós nos jardins do Palácio Gaudi, quando reparei no terceiro furo, como três são demais, Camilo resolveu dar uma olhadela na minha roda, chegámos à conclusão que a câmara estava a ser trulhada, por deficiente isolamento da roda, tivémos que acabar de resolver o problema do furo fora dos jardins do palácio, em virtude deste encerrar ao público ás 16.00 horas. Pouco depois abalámos para enfrentar a subida para a Cruz de Ferro. 


A mítica Cruz de Ferro
Para Camilo e Vitor, esta dificuldade não era de grande monta, contudo à chegada, também aparentavam algum cansaço. Eu comecei muito mal, acontecia sempre uma quebra psicológica quando "pinchava", com repecurssão no estado físico, Fulvio descolou mesmo no início da subida. Contudo não sei o que se passou a determinada altura, que comecei a andar por ali acima, passei toda a gente e cheguei ao cimo pouco depois de Vitor e Camilo, tendo passado inclusive por Fulvio, no entanto pouco depois esperei por ele para chegarmos juntos. Detivemo-nos um pouco no Alto da Cruz de Ferro, antes de enfrentar a descida louca que se avizinhava, neste dia percorremos 108,25 Kms, a uma velocidade média de 15,51Kms Hora e máxima de 60, 25 KmsHora, não tendo esta sido maior porque me cortei um pouco na descida, com medo de "lamber"o alcatrão. Foram 06:58:39 H. a andar de bicicleta.


A chegada a Molinaseca foi rápida, porque os últimos 15 Kms da etapa foram sempre a descer e rápidamente atingímos o final. Aqui encontámos um excelente albergue onde pernoitámos, depois de um duche bem quentinho, e de um jantar excelente, num restaurante situado ao lado de uma ponte medieval, e de uma pequena praia fluvial muito bonita (a coisa aqui começou a derrapar em termos financeiros, já que resolvemos abrir os cordões à bolsa, para o jantar e cada um "ardeu com 20 euros). Sérgio perdeu-se de nós, depois de eu ter furado em Astorga e aí termos perdido muito tempo. Esta Terça foi um dia cansativo, tanto quanto interessante, eu e Fulvio levámos uma tareia de bicicleta, Vitor e Camilo iam buscar forças não sei onde, porque pareciam nunca estar cansados.

No albergue falei com duas brasileiras simpáticas, que tinham começado a peregrinação em Astorga. A partir de Astorga engrossa muito o número de peregrinos, não sei o número de vezes que disse "bom dia e bom caminho", para além de ser imperioso dizê-lo, substitui a buzina na bicicleta.

Encontrei mais uma vez os nossos amigos alemães que aqui também pernoitaram, tipos simpáticos.

Retomando o assunto "jantar", para dizer que comemos muito bem, mesmo muito bem, depois de algum tempo de conversa, dirigimo-nos ao albergue onde tratámos das pernas, as minhas pareciam chumbo. Depois de ter telefonado, foi altura para escrever algumas linhas, embora não desse para muito, o cansaço era tanto que a noite foi a pique, sem sequer achar graça ao ressonar de quem quer que seja.

Molinaseca -  Ponferrada - Cebreiro - Samos, 101,12 Km - 9.º Dia, Quarta Feira, 19 de Setembro.

À medida que nos aproximávamos de Santiago aumentavam as dificuldades. A etapa deste dia foi deveras difícil, rolámos sempre pelo caminho, somente apanhámos a estrada na subida ao alto do Cebreiro, fomos informados que alguns troços do caminho são difíceis para quem vai de bicicleta, pelo que o melhor seria mesmo subir pela estrada, paralela ao caminho.

Finalmente iriamos entrar na Galiza, a paisagem fazia lembrar a região pirinaica, a saida de Molinaseca deu-se cedo, Camilo emprestou-me umas meias calças que muito jeito deram, as manhãs já se apresentavam frias.

Rapidamente chegámos a Ponferrada, iriamos hoje abraçar talvez a jornada mais dura, mas tão bonita quanto difícil. Percorremos 101,12 Kms a uma vlocidade média de 15,30 Kms H., rolámos em cima das bikes 06:36:26, a velocidade máxima conseguida foi de 53, 85 Kmh. A subida do Cebreiro foi verdadeiramente estonteante, antes porém, rolámos muito bem com o caminho a serpentear o rio Valcarce, também paralelo à estrada. Estávamos às portas da Galiza, o verde começava a diminar amplamente a paisagem. Seduziram-me particularmente os frondosos bosques de castanheiros e carvalhos que íamos deixando para trás, a subir até ao Alto do Cebreiro.

É claro que Vítor e Camilo descolaram na subida, eu e Fúlvio fomos sempre subindo, muitas das vezes com a bicicleta à mão, porque em boa verdade estávamos já bastante cansados mais uma vez os andaluzos aguardaram-nos no Alto do Cebreiro, aqui parámos na aldeia com as casinhas em pedra, fomos convidados a beber umas cervejas pelos amigos alemães, que no cimo, com ar bastante cansado, e ao mesmo tempo de jubilo pelo feito conseguido, exibiam cada um uma caneca de cerveja, assim ali houvesse maior.

Hoje não tivemos a felicidade de fazer a última parte da etapa sempre a descer, isso aconteceu só até um determinado ponto, porque os últimos 10 12 Kms. até chegar ao Mosteiro beneditino de Samos foram penosos, contudo apesar do cansaço conseguimos ainda pedalar para apanhar um lugar no albergue, para o merecido descanso e para um repasto tranquilo. Aqui chegados fomos muito bem recebidos pelos voluntários que prestavam serviço, tenho pena de não ter efectuado uma visita guiada pelo mosteiro. Mas o cansaço aliado ao desejo de apanhar depressa o duche obstaram a este desejo.

Samos é uma povoação pacata, com o único defeito de ser atravessada por uma estrada que lhe corta alguma tranquilidade. Contudo a zona envolvente ao mosteiro é magnífica, como poderão comprovar pelas fotos expostas.

Depois de arranjadinhos, vagueámos pelo povoado, comemos uns tapas e apressámo-nos a ir jantar. Chegados ao restaurante optámos pela carne grelhada, também não havia alternativa.

Quando nos aprontávamos para o repasto, os nossos oito olhos fixaram uma bela rapariga alemã, Francesca de seu nome. As alemãs até não convivem muito bem com a elegância, esta é contudo uma excepção, a rapariga entrou e sobre ela saltaram olhares matreiros e babados, contudo a todos ela respondeu com naturalidade e indiferença.

Porém rapidamente voltou a ser o centro das atenções, como era vegetariana, à falta de alternativas, e depois de uma caminhada longa, teve de contentar-se com salada de alface, tomate, pão, vinho e batatas fritas. Quase que desesperou, contudo acabou por encontrar em nós boa companhia, como os espanhóis só falavam mesmo espanhol, eu e Fulvio lá fomos ajudando na tradução de alguma coisa, mas estava difícil, a moça não pescava muito de francês e como eu em inglês ainda pescava menos, a ajuda que prestámos foi mais difícil de executar.

A noite caiu e, já no albergue, cheou a hora de recolher, ás 22.00 fecharam-se as portas e apagaram-se as luzes. Este albergue mais parecia a sociedade das nações, sul americanos, orientais, europeus, uma enorme diversidade de pessoas dos quatro cantos do mundo. Como costumava dizer Fulvio: "é o camino".

Samos - Melide, 82,33 Km, 10.º dia, Quinta-Feira, 20 de Setembro.


Esperei muito pelo momento de escrever sobre esta etapa, sem dúvida aquela que mais satisfação me deu percorrer, os caminhos da Galiza são verdadeiramente estonteantes de tanta beleza natural que patenteiam, os castanheiros, carvalhos, pinheiros, as pastagens verdes, as vacas com as quais não podemos deixar de nos cruzar no caminho, as bostas que perfumam os trilhos, e que se agarram ás bicicletas. Enfim existe algo que nos faz sentir bem, esquecer as dores musculares que apertam, e de que maneira os nossos corpos já extenuados.
Trata-se verdadeiramente de uma etapa magnifica, a que hei-de levar ou convidar alguns amigos a percorrer.

Neste dia fizemos 82,33 Kms., com uma velocidade máxima de 55, 82 Kms,  média foi de 12,62 Kmh, 06:31:21 H, tempo realizado a pedalar.

Em Sarriá reencontrá-mo-nos com Sergi, que em virtude da confusão provocada pelo meu furo em Astorga tinha descolado. Foi o reorganizar do grupo para atacar o final.

Não me canso de exaltar com a beleza da etapa, a Galiza é deslumbrante, para além do percurso que é um assombro, todos estamos contentes por ver o objectivo quase a ser alcançado. Muitas foram as vezes que pensei que poderia não chegar o fim, fruto de alguma lesão, só por isso.

Felizmente sentimos todos uma grande alegria, e já com alguma ponta de nostalgia por ver passados momentos fantásticos de vivência verdadeiramente fraternal, a amizade quando bem cultivada é algo de sublime.

Ao jantar, em Melide, o polvo à galega foi repetido por três vezes, até não podermos mais. A cerveja nem se fala. reavivámos momentos do caminho de que se aproximava o termo, ingenuamente fiz corar a simpática empregada, quando perguntei: "a tarte és folhada"? Rebentaram gargalhadas entre os espanhóis, a moça ficou com os olhos esbugalhados, de imediato me apercebi da bronca que dei.

Estes espanhóis são umas fonhas a comer, e Fulvio, bem Fulvio parece "um camião betoneira", não é Valentino?!
Igualmente deixámos para trás atractivos que já todos pensamos em rever, sabe-se lá quando, mas penso que é denominador comum, todos no seu pensamento pensam em voltar. Que assim seja.

Já em jeito de balanço, posso afirmar que esta tem sido uma experiência incrível, de uma auto satisfação enorme. Sem dúvida se houver condições que permitam, por mim será seguramente repetida.

Melide - Santiago de Compostela, 55,57 Km - 11.º e último dia, Sexta Feira, 21 de Setembro.


O quotidiano numa povoação rural galega.
Finalmente, o dia tão esperado,  o da chegada a Santiago. Depois do pequeno almoço em Melide, os habituais exercícios de aquecimento antes da partida. 

Os os primeiros kms. são sempre os mais difíceis, pelo menos enquanto o físico ainda está a em fase de adaptação às exigências do caminho.

A saída de Melide foi excitante, com um misto de nervosismo e impaciência à mistura, estávamos a poucas horas de alcançar o objectivo.A etapa correu de forma esplendorosa. Na véspera todos alardeamos boa disposição, apesar do cansaço. No local da janta, quase só ouvíamos uma única frase: mañana…Santiago

Durante a manhã  esta saudação foi repetida vezes em conta, na passagem por cada peregrino. Foi, indubitavelmente, uma verdadeira jornada de alegria: bom caminho, buen camino, as saudações aos demais peregrinos jorravam em catadupa.


O segundo pequeno almoço aconteceu numa pequena aldeia galega, pela módica quantia de 3 €, mas que valeram bem a pena gastar, uma vez que o repasto valeu pela qualidade e quantidade.

António e Fulvio pelo Caminho.
Neste ponto de paragem, a conversa com um simpático brasileiro septuagenário, peregrino dos últimos e tradicionais 100 kms na Galiza. É sempre bom ouvir falar português e, claro que nunca perco a oportunidade para ser um bom embaixador de Portugal.

O caminhante procurava obter a credencial de peregrino, uma vez que só é passada a Compostelana a todos quanto percorram, no mínimo 100 kms a pé ou 200 a cavalo ou de bicicleta. Neste último troço encontrámos um um grupo de coreanas a fazer o caminho, com carro de apoio, assim é bem mais fácil, mas perde o sentido. 


Peregrinos da Via de la Plata
Nesta última etapa uns catalães que faziam o Caminho da Prata, desde Sevilha, acabaram por se agrupar connosco, após uma paragem para reabastecimento das gargantas sedentes. Eram simpáticos e conversadores.

Deste ponto até Santiago pedalámos sempre juntos, mas esta malta mais parecia que tinha um motor auxiliar nas pernas, a pedalada deles era fortíssima.


Monte do Gozo
A chegada ao Monte do Gozo foi quase triunfal, foi preciso subir e subir para chegar à meta dos últimos 5 kms. Aqui, fomos muito acarinhados e incentivados por muitos viajantes/peregrinos, foi bonito.
Momentos antes da entrada em Santiago

Muito divertido foi escutar uma troca de palavras entre uma senhora espanhola, muito bem disposta, convidando Vítor, Sergio ou Camilo, para que um deles aceitasse namorar com a filha. "O para mi"… dizia. Danada de brincalhona. Ainda perguntei se eu não servia, mas ela respondeu que carne rija já tinha em casa.

Finalmente Santiaaaagoooo…  

O desafio que me propus ultrapassar, foi cinseguido de forma estupenda. Tratou-se de uma vitória maravilhosa, linda.

Santiago
Para trás ficavam 840 kms de paisagens deslumbrantes, cidades monumentais, boa comida, convívio quase fraterno, novas amizades, desde o septuagenário francês, em Roncesvalles, lutando para vencer o cancro, ao Marco, às bonitas Gabriela, da Republica Checa e a italiana Isabela em Logrono.  O casal de franceses que conheci em Belorado, o grupo de ciclistas italianos com quem nos cruzámos e convivemos em grande parte do caminho, os suíços mais sisudos, mas que simpáticamente no Alto do Cebreiro, nos convidavam de boa vontade a ficar, para beber umas cervejas. E, muitos mais...

A chegada a Santiago foi acompanhada de um desejo… voltar novamente ao início. Bem que continuaria para Finisterra, mas já não dispunha de mais dias livres, infelizmente.

Digeridas as primeiras sensações da chegada, foi tempo de escolher um local de repasto, o Camilo não parava de falar no pulpo à galega. A refeição foi exageradamente servida de polvo, costeletas e cerveja. Trinta euros, que dariam normalmente para três refeições, esgotaram-se em apenas uma. Já na véspera, em Melide, tinham sido queimados 25 euros.

Ao lado da Catedral
Não é por demais enfatizar os instantes da chegada à Praça Obradoiro.

Foi, na realidade uma experiência única e incrível. Sem dúvida um sentimento colectivo de triunfo e satisfação mas, também, de reconhecimento àqueles que tornaram isto possível. Aqui abro um espaço de reconhecimento para a minha família e amigos que me ajudaram e incentivaram a fazer o Caminho Francês de Santiago, aos quais muito agradeço.

Por tudo o que foi vivido e a sensação de ter alcançado algo mais do que o terminar de um longo passeio, todos ficámos a conhecer muito mais, e, sobretudo, sentimos o prazer de ter partilhado vivências extraordinárias entre todos. Finalizamos o Caminho Francês com a bonita impressão de ter convivido com todas as pessoas que fizeram o caminho, a pé ou de bicicleta, mesmo com aqueles com quem não contactámos.

Praça do Obradoiro
Foi, sem qualquer sombra de dúvida, uma experiência fantástica, convido-vos a fazer o mesmo, seja a pé, bicicleta ou a cavalo.

No total percorri 842,21 Kms em onze dias, coisa impensável há uns dias atrás, uma vez que não efectuei antecipadamente qualquer preparação especial.

Talvez tivesse ajudado de ter começado a ir para o serviço de bicicleta, no mês de Julho, longe de pensar, ainda em fazer o caminho. Um percurso diário que no entanto não oferece qualquer grau dificuldade, são apenas oito kms, planos, que se fazem bem em jeito de passeio, sendo apenas necessários cerca de 25 minutos para o percorrer.

A maior dificuldade residiu, sem dúvida, nos joelhos que todas as noites se lamentavam. Las rodillas já não perdoam a um sujeito de 45 anos, que se mete nestas andanças.
Também a coluna necessitou, sempre atenção especial. Mas espero, sem dúvida, continuar a repetir proeza, assim o físico permita.

Foi experiência recompensadora. Durante onze dias não pensei no trabalho, na faculdade, em quase nada do quotidiano, excepto como é óbvio, em todos os que me são caros.

Não podemos prever o futuro, mas a vontade em repetir uma empresa como esta é muito forte, quem sabe o Caminho do Norte? Mas existem também outras alternativas, menos cansativas e, sem dúvida, também deslumbrantes.

Achei importante relatar a minha viagem, vejo-o como uma forma de partilhar coisas boas, experiências vividas no convívio com pessoas de todo o mundo, o desfrutar de paisagens magníficas, a grata satisfação de visitar lugares que, no seu conjunto, constituem o património material e imaterial deste Caminho, considerado Património da Humanidade.


Da esquerda: Fulvio, Sergio, Camilo, Vítor e António.
Foi, também, uma viagem na história, no seu conceito mais amplo ou mais específico da história religiosa, da história da arte, no fundo tratou-se duma viagem na cultura.
Cada um, à sua maneira, pode fazer o seu "caminho", é uma experiência fantástica, vale bem a pena, convido-os a fazê-lo, tanto não se arrependerão, como, por certo, ganharão vontade de repetí-lo.

Uma palavra para os meus colegas de viagem, Camilo, Vitor, andaluzos ao catalão Sergio e a Fulvio, milanês de 55 anos, dada a facilidade de entendimento, mais parecia que o caminho tinha sido planeado em conjunto.                                                                     


Para finalizar, apenas uma referência aos números desta décima primeira e último trajecto, de Melide a Santiago de Compostela. Percorri os 55,57 Kms, a uma velocidade média de 12,83 Km/H, cheguei atingir a velocidade de 45,90 Km/H, tendo sido necessárias 04:19:49 H para percorrer a distância, bem mais pequena que de Roncevalles a Santiago - 842,21 Kms.


A Carta de Fulvio - Il mio cammino a Santiago de Compostela

Dopo almeno quattro anni di pensieri,dubbi, riflessioni, certezze e incertezze e tante conferme, al punto che mia moglie Arcangela, all’ ennesima chiamata mi ha detto “ tu devi andare “;dopo aver ricevuto qualche dritta da Francesco di Gorgonzola, che l’aveva fatto l’anno prima, mi decido e il 10 settembre 2007 PARTO da solo alla volta di Bayonne in Francia. Il giorno seguente salgo sul treno con la bici e in un’ora sono a St. Jean Pied de Port, l’ INIZIO.

Alle 10,30 sbrigate tute le formalita’ (credenziale, ecc.)si comincia a pedalare. L’ inizio del Cammino e’ la dimostrazione di cio’ che mi aspettera’ nei giorni seguenti, e cioe’ tanta fatica, condita da tante bellissime immagini che mi resteranno scolpite per sempre nella mente e nel cuore; l’andare senza fretta, perche’ correre non serve e la certezza di non voler mollare mai e quindi vivere totalmente l’esperienza che la vita ti offre. Sono aspetti che subito non riesci a cogliere, ma che col passare dei giorni accumuli e ne gioisci.
Dalla sera del primo giorno ho conosciuto un ragazzo portoghese di 45 anni di nome Antonio ed il giorno seguente a Pamplona Camillo e Vitor, due ragazzi andalusi giovani, esuberanti e caratterialmente molto simili ai miei figli, che tanto avrei voluto fossero con me, piu’ avanti si e’ unito a noi anche Serge, un ragazzo di Barcellona. Insieme abbiamo percorso tutto il Cammino.

Con loro, ma in particolare con Antonio, ho condiviso sia i momenti di allegria ( tanti ), sia i momenti di difficolta’ fisica e di grande stanchezza. Con loro mi sono reso conto che la vera impresa non e’ arrivare a Santiago, ma e’ percorrere il Cammino, dove senza aver bisogno di cercare fede, fiducia, amore e quant’altro, ci si sente piano piano consapevoli di possedere gia’ quanto si pensava di dover acquisire.
Voglio ringraziare quanti mi hanno consigliato e spronato forti della loro esperienza, felice di aver fatto il Cammino e certo di tornarci un giorno, ringrazio la mia famiglia che ha nascosto le preoccupazioni per darmi la possibilita’ di vivere una esperienza per me importante, in tutta tranquillita’ mentale e fisica.
Ad ANTONIO, CAMILLO, VITOR E SERGE dico BUEN CAMINO, hasta la vista, speriamo di rivederci presto.
Il Cammino di Santiago, se lo percorri, ti accorgi che presenta tutti gli aspetti che normalmente incontri nella vita di tutti i giorni, quindi a tutti dico: BUON CAMMINO Ciao Fulvio, 10/02/2008



Tradução do artigo enviado pelo amigo "caminero" Fulvio Lamperti"

"Depois de quatro anos de pensamentos, duvidas, certezas e incertezas e muitas confirmações, até que a minha mulher Arcangela disse-me "Tu tens de ir". Depois de ter pedido alguma orientação ao Francesco de Gorgonzola, que o tinha feito no ano anterior, finalmente decidí e a 10 de Setembro saí sozinho, para Bayonne, em França. No dia seguinte entro no comboio com a bicicleta e depois de uma hora já estava em Sant Jean Pied de Port. Começo às 10.30, despachadas todas as formalidades(credencial etc) comecei a pedalar.
O inicio do caminho pareceu-me bem elucidativo do que iriam ser os dias seguintes, muita fadiga, acompanhada por lindissimas imagens que ficaram marcadas para sempre no meu coração. O poder caminhar sem pressa, porque correr não leva a nada, a certeza de não desanimar nunca, o querer viver totalmente as experiências que a vida nos oferece... São estes aspectos que não consegues compreender logo, mas depois de alguns dias, pouco a pouco, irás saboreá-los, exultando-te com isso..
Na noite do primeiro dia, conheci um rapaz português de 45 anos que se chama António e no dia seguinte, em Pamplona, o Camilo e o Vitor, dois rapazes andaluzos, jovens, cheios de vida e com uma carácter muito parecido como o dos meus filhos, que tanto desejava estivessem ali comigo; mais à frente juntou-se a nós o Sergio, um rapaz de Barcelona. Juntos percorremos o caminho.
Com eles, mas com o Antonio em particular, partilhei tanto os momentos de alegria (houve muitos) como os momentos mais dificéis, momentos de dificuldade física e de grande cansaço.
Com eles dei-me conta de que o mais importante não era chegar a Santiago, mas percorrer e desfrutar o Caminho, onde não é preciso procurar fé, fidelidade, amor e mais, pois pouco a pouco compreende-se já possuir dentro de si tudo aquilo que antes, pensava fosse preciso encontrar.
Quero agradecer a todas as pessoas que me deram conselhos e que me deram coragem, sentindo-se fortes pela experiência deles. Agradeço à minha família, que aguentou muitas preocupações, dando-me a possibilidade de viver uma oportunidade muito importante, vivida com tranquilidade mental e física.
Ao Antonio, Camilo, Vitor e Sergio... Hasta la vista, espero que nos voltemos a ver muito em breve.
O Caminho de Santiago, se o percorreres, vais dar-te conta de que ele tem os mesmos aspectos que sempre encontras, todos os dias, na tua vida... Por isso, quero desejar a toda gente:
BOM CAMINHO! CIAO. FULVIO


Ao amigo Fulvio, italiano simpático, sempre solícito, alegre e bem disposto. Encontrei-o pela primeira vez no comboio, entre Bayonne e St. Jean Pied-de-Port, companheiro de pelotão no Caminho Francês de Santiago, apenas não fizemos a primeira etapa entre St. Jean Pied-de-Port e Roncesvalles, ele personificou de forma exemplar o espírito do Caminheiro de Santiago. A sua alegria e boa disposição foram constantes. Um homem de 55 anos, com espírito de um jovem de 20, foi, sem dúvida, um prazer privar com ele. Obrigado "Valentino", pela tua companhia, amizade, pelos teus conselhos, sempre importantes.
António 


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